Qualidade das águas:Algas encarecem custos do tratamento da água para abastecimento
Depósito de poluentes nos
reservatórios favorece o desenvolvimento de algas e cianobactérias, encarecendo
o tratamento da água para consumo. Soluções tecnológicas de monitoramento
contribuem para solucionar os problemas de qualidade da água
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O Brasil está na 112ª posição no quesito
saneamento em um levantamento feito com 200 países, segundo estudo divulgado
pelo Instituto Trata Brasil, em parceria com o Conselho Empresarial Brasileiro
para o Desenvolvimento Sustentável, em março de 2014. Segundo a pesquisa,
somente 38% de todo o esgoto gerado no Brasil recebe algum tipo de tratamento.
Uma das principais consequências do despejo de
esgotos nos corpos d’água é a proliferação de algas e cianobactérias. O esgoto
in natura é prejudicial à natureza por conter uma grande quantidade de
nutrientes, como fósforo e nitrogênio, fertilizantes e alta concentração de
matéria orgânica, o que acelera o crescimento de algas nos ambientes aquáticos.
Fernando Antônio Jardim, coordenador e analista de laboratório hidrobiológico
da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (COPASA) explica que a proliferação
excessiva de algas e cianobactérias nas águas represadas é causada por diversos
fatores, entre eles baixa turbulência da água, excesso de luz e entrada de
nutrientes. “O risco está sempre associado à ingestão dessa água sem o devido
tratamento, pois algumas cianobactérias (algas azuis) podem produzir e liberar
cianotoxinas nas águas, que podem trazer prejuízos ao fígado e ao sistema
nervoso central”.
Mauro Banderali, especialista em instrumentação
ambiental da Ag Solve comenta que as algas são organismos uni ou
pluricelulares, que na presença de nutrientes e luz, convertem a matéria
orgânica em mais matéria e ao decompor o gás carbônico, devolvem oxigênio ao
meio. “A alga atua como qualquer planta que, ao receber nutrientes e água, se
multiplica na capacidade que o ambiente a mantém. Sendo um ambiente rico em
nutrientes, sua multiplicação é veloz. Embora o processo ocorra de modo geral
com todas as algas, as que possuem pigmentos de Ficocianina e Ficoeritrina
(caracterizadas pelas colorações azul, verde-oliva e até vermelho) são
especialmente monitoradas pelas empresas de saneamento, pois acumulam no interior
de suas células toxinas neurológicas e hepáticas que podem provocar problemas
de saúde”, informa.
As algas e cianobactérias podem ocasionar
problemas tanto para a recreação e balneabilidade, quanto de potabilidade, ao
conferir gosto e odor na água. “Algumas espécies, principalmente do grupo das
cianobactérias, podem produzir toxinas que ocasionam riscos à saúde humana .
Inclusive, se naquele local houver captação de água para usos de abastecimento
público, também será necessário um tratamento mais intensivo”, analisa Maria do
Carmo Carvalho, gerente do setor de Comunidades Aquáticas da Companhia
Ambiental do Estado de S. Paulo (CETESB).
Com altas quantidades do pigmento clorofila, as
chamadas florações desses organismos tornam a água esverdeada. “As
cianobactérias possuem em volta de suas células e colônias uma espécie de
mucilagem e dentro de suas células, vesículas de gás (aerótopos), que propiciam
a sua flutuação na coluna d´água. Com a decomposição dessa biomassa de algas e
cianobactérias, há a produção de gases como o sulfeto, por exemplo, que confere
à água gosto e odor indesejáveis”, especifica Jardim.
Ocorrência dos organismos
gera mudança na forma de tratamento e eleva custos
A alteração na qualidade provocada pelas algas
dificulta e aumenta os custos do tratamento da água para abastecimento humano.
“Essas florações aumentam sobremaneira os custos operacionais, pois além da
necessidade de lavar os filtros das estações mais vezes, há também um consumo
excessivo de produtos químicos durante o tratamento da água. Além disso,
eleva-se o número de análises realizadas para garantir uma água dentro dos
padrões de potabilidade exigidos pela legislação vigente”, aponta o analista da
COPASA.
A gerente da CETESB ressalta que, geralmente, em
tratamentos convencionais são utilizados produtos como cloro e fluocluantes. “Quando
há floração de organismos como cianobactérias, considerando os riscos das
toxinas, o tratamento utilizado é o carvão ativado, que é adsorvente e é o
produto mais eficiente para isso. Além do o carvão ativado ser um produto caro
para realizar o tratamento, a empresa de saneamento vai utilizar uma maior
quantidade de produtos para transformar essa água em ideal para o consumo”.
Conforme explica Jardim, o tratamento inicia-se
já no ponto de captação onde uma quantidade de ar é injetada na água, reduzindo
assim a absorção de nutrientes pelas algas e cianobactérias. “Também é
utilizada uma dosagem de carvão ativado na água para que ocorra a adsorção de
compostos que alteram o gosto e o odor da água”, explica.
Tecnologias colaboram com
detecção e prevenção
De acordo com Mauro Banderali, a tecnologia é uma
aliada no monitoramento e detecção de algas e cianobactérias. “O contaminante
se dissolve na água e geralmente nem mesmo é notado, sem uma análise química e
biológica mais detalhada. Para a realização dessa análise, a tecnologia mais
indicada são as sondas da qualidade da água AP 2000, AP 5000 e AP 7000, capazes de
mensurar parâmetros físico-químicos e específicos, através dos sensores óticos
e ISE, o que inclui clorofila “A”, Ficoeritrina e Ficocianina, em um sensor por
variável. Desta forma, podemos ver que as algas são reflexo de um corpo d’água
que recebe cargas contaminantes muito acima das suas capacidades de
decomposição sustentável à vida daquele ambiente”. Além disso, ele informa que
a Ag Solve possui duas soluções tecnológicas de monitoramento exclusivas para
algas e cianobactérias, que são os aparelhos Unilux e Trilux. “Ambos
contribuem para que as empresas de saneamento possam assegurar uma água de
maior qualidade para a população”, afirma ele.
Altas temperaturas
influenciam na proliferação de algas
Em épocas de seca, como a que o Estado de São
Paulo está passando no momento, uma maior proliferação de algas pode ocorrer.
“Como os poluentes e nutrientes já estão nos reservatórios, quando o nível
d’água baixa, há uma maior concentração destes poluentes e, portanto, a falta
d’água resulta em uma menor diluição do que é lançado. Obviamente, há uma
tendência em haver um maior desenvolvimento de algas e cianobactérias na época
de seca”, aponta Maria do Carmo. Segundo a especialista, um outro fator que
merece destaque é a temperatura ideal para o desenvolvimento das algas e
cianobactérias, que é entre 19° e 30°. “O clima do Brasil é favorável ao
desenvolvimento de cianobactérias, pois esta é uma temperatura que temos ao
longo de, praticamente, o ano todo”, declara.
Segundo Fernando Jardim, “a proliferação
excessiva de algas e de cianobactérias na água pode ser evitada com um intenso
trabalho de educação ambiental, para controlar o depósito de lixo e esgoto sem
tratamento na água dos nossos rios e represas. Além disso, é importante exigir
o tratamento dos efluentes gerados nas residências e indústrias”.
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