CIDADE DE BELÉM E NATUREZA: UMA RELAÇÃO PROBLEMÁTICA?
Damos conhecimento em nosso blog de um
admirável texto sobre a importância da arborização do espaço urbano em nossa
cidade - Cidade de Belém e natureza: uma
relação problemática? em tempo de desmatamento e de descaso do poder
público quando da ausência de uma responsável política ambiental voltada para
mitigação da degradação ambiental em nosso lócus urbano.
CIDADE DE BELÉM E
NATUREZA: UMA RELAÇÃO PROBLEMÁTICA?
RESUMO
Belém vem perdendo, de forma incessante e rápida, o seu verde
urbano. Essa perda apresenta características singulares, quando comparada a que
outras cidades brasileiras igualmente sofrem face ao processo de especulação
urbana e à ocupação desordenada do solo. Na
cidade das mangueiras, são justamente elas, as mangueiras – tombadas pelo Patrimônio como
bem de uso comum e preservação permanente – as espécies que padecem maiores
danos, descaracterizando a cidade como tal. Além disso, diferentemente de
outras capitais, onde a iniciativa privada tem sido responsável pela maior
parte dos danos ambientais, em Belém, as ações e omissões do poder público em
relação à cidade, respondem mais gravemente que o setor privado, pela
deterioração da paisagem urbana, seja no que concerne ao verde, seja no que diz
respeito às águas internas da cidade.
A IMPORTÂNCIA DO VERDE VIÁRIO NAS CIDADES
O verde urbano é constituído pela vegetação existente nas
cidades e seus arredores imediatos – subúrbios, áreas de expansão urbana. Em
razão do contexto em que se localiza e, principalmente, da funcionalidade que
exerce para a vida urbana, ele é classificado como: vegetação do interior de
terrenos privados ou públicos, que são de uso restrito; vegetação das unidades
e áreas legais de conservação ou preservação; área verde, quando compõe a
paisagem dos locais “abertos” destinados ao lazer, recreação e contemplação,
como são os parques e as praças; e verde viário, que engloba a vegetação
situada ao longo das vias de tráfego, mas precisamente nas calçadas e canteiros
centrais ou de rotatórias (BUCCHERI FILHO; NUCCI, 2006), assim como as chamadas
calçadas ecológicas.
A consciência da importância da paisagem, do ambiente e do
verde urbano na vida em geral e na saúde física e mental das pessoas é recente.
Os estudos realizados desde os anos 1990 (e para isto a ECO-92 teve um papel
fundamental) denunciando os males da vida urbana em função de um ambiente
desequilibrado têm ajudado a reverter o processo de degradação em numerosas
cidades no Brasil e mundo afora, seja por iniciativa dos gestores, seja por
pressão da população afetada ou mesmo das empresas.
Neste artigo, está-se discutindo o verde viário da cidade de
Belém (PA), quanto à situação da vegetação existente em nossas ruas, ao
tratamento que ela recebe quanto à legislação e às ações para sua implantação,
manutenção e expansão, assim como os benefícios que logradouros mais
arborizados poderiam trazer à população. Interessa, nesta discussão, mais os
aspectos sociológicos e geográficos da questão, com inserções sempre que
necessário de especificações técnicas e urbanísticas. O verde urbano é um
componente importante da arborização das cidades, porém, pouco reconhecido do
ponto de vista técnico e administrativo (PIVETTA; SILVA FILHO, 2002).
No Brasil, a arborização sistemática de ruas é bem mais
recente que nos países europeus, com as primeiras experiências sendo realizadas
a cerca de 130 anos. Apesar disto, ainda hoje esta prática tem sido minimizada
nas dinâmicas de planejamento e expansão urbana, em detrimento do conforto da
população e da qualidade do ambiente (DANTAS; SOUZA, 2004). Paradoxalmente,
Belém, que hoje pouco dispõe do verde nas ruas, foi uma das primeiras cidades brasileiras
a arborizar os logradouros públicos, o que já acontecia de modo pontual na
segunda metade do século XVIII.
São muitos os benefícios que o verde viário, sobretudo a
vegetação arbórea, pode proporcionar à qualidade de vida nas cidades. Entre
outros, verifica-se: bem-estar psicológico; melhor efeito estético; sombra para
os pedestres e veículos; redução da velocidade dos ventos; amortecimento do som
e amenização da poluição sonora; redução do impacto das chuvas sobre o solo,
aumento da infiltração e redução do escoamento superficial; controle do
microclima, auxiliando na regulação da temperatura, da umidade e das chuvas; e
preservação da fauna (PIVETTA; SILVA FILHO, 2002, op cit).
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Extraído de: Cidade de Belém e natureza: uma relação problemática?
Violeta Refkalefsky Loureiro – Professora da
Universidade Federal do Pará (PPGCS e PPGD). Doutora em Sociologia do Desenvolvimento
pela Universidade de Paris III – França,
Pós-doutorado no Centro de Estudos Sociais, da Univ. de
Coimbra-Portugal. E-mail: violeta.
E-mail: violeta.loureiro@ig.com.br
Estêvão José da Silva Barbosa – Geógrafo, Mestre em
Geografia, Especialista em geografia urbana, ex-diretor do NURI/SEDECT-PA.
E-mail: estevaobarbosa@yahoo.com.br
Novos Cadernos
NAEA, v. 13, n. 1, p. 105-134, jul. 2010, ISSN 1516-6481
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