'GIGANTE' INVADE FEIRINHA



Camarão de até 34 centímetros e 200 gramas atrai compradores na venda próxima à ponte de Mosqueiro
Na infinidade de rios amazônicos, muita gente diz que já viu, coletou ou comeu o "maior camarão da região", mas nada que possa disputar com o crustáceo realmente graúdo vendido na entrada da ilha de Mosqueiro, na ponte sobre o Furo das Marinhas, em Belém. Quem passa nos finais de semana de julho pela PA-391, na direção das praias do distrito, chega a se assustar com o tamanho de alguns camarões vendidos na chamada "Feira da Ponte". É claro que eles são diferentes do camarão regional (Macrobrachium amazonico). São os chamados "Gigantes da Malásia" (Macrobrachium rosenbergii), espécie asiática facilmente encontrada na região e que chega a 34 centímetros de comprimento. As teses sobre a chegada dos crustáceos são várias, e partem de diferentes grupos - pesquisadores, pescadores e consumidores -, mas em um ponto há consenso: o gigante da Malásia, assim como o camarão regional, fica muito bem ao lado de uma tigela de açaí.
Na verdade, pequenos pontos de venda de camarão regional começam a aparecer desde o trevo de Mosqueiro, que liga a BR-316 à PA-391. Junto do camarão amazônico, sempre há um paneiro com algumas unidades ou dezenas dos malasianos. "As pessoas ficam abismadas. Tem gente que diz que é de brinquedo", diverte-se uma das vendedoras de camarão, Rosa Maria Teixeira, 40. Ao lado de sua cesta de camarão regional, vendidos a R$ 7 cada quilo, há sempre pelo menos três dezenas dos chamados gigantes, que custam R$ 8 e R$ 10 a unidade, do "médio e do grande", respectivamente.
Matapi não é o bastante para esse camarão. Projetada para o camarão regional, a armadilha ribeirinha só captura os menores malasianos, que não têm valor comercial. Para chegar ao asfalto, o crustáceo passa pela mão da população ribeirinha do Furo das Marinhas, que fornece diretamente para os trabalhadores da feira. "O pessoal que mora à beira do rio traz para mim. Cada vendedor aqui tem seu pescador exclusivo. Ele já pega o camarão e traz", conta Rosa, que trabalha há cinco anos com as vendas de camarão. Do outro lado da rodovia, há um bar, também pertencente à família. De lá mesmo os consumidores gritam por um camarão para tirar o gosto da cerveja. 
As aplicações gastronômicas do estrangeiro em terras paraenses são variadas. Ao lado do ponto de venda em Mosqueiro, contudo, ele é incorporado aos costumes regionais. "Lava, bem lavado; põe o sal e limão a gosto. Deixa ferver. Aí ele vai ser cozido mais no vapor. Esse é o camarão no bafo. Pronto com açaí e como tira-gosto pra quem bebe", explica Rosa, segurando um dos gigantes, que pesa em média 200 gramas. Todo o preparo é feito na hora. Quanto maior a demanda, mais carvão no fogareiro. "Dá para comer assado também. Aí não tem que cozinhar, já vai direto para a churrasqueira. Só o filé", disse o vendedor Carlos Monteiro, de 16 anos.
Larvas de criadouro rompido se espalharam no furo das marinhas
Segundo os moradores, o malasiano está no Furo das Marinhas por conta de um falido empreendimento de criadouro do crustáceo. O tanque com as larvas do camarão teria estourado, despejando-os no rio. Daí, se adaptaram, cresceram e se fixaram. Tese que só poderá ser comprovada com um estudo científico. Para serem considerados adaptados, a população deve conter indivíduos jovens, adultos e fêmeas com ovos. Outra teoria é a de que os visitantes vieram de carona em navios, no meio da água de lastro - quantidade de água oceânica captada para dar estabilidade às embarcações.
Segundo William Teixeira, de 21 anos, irmão de Rosa, o "camarão da Malásia é predador, come os menores, come o camarão regional". Mas, "camarão que dorme a onda leva", incluindo camarão graúdo. "Esse malasiano troca de casca", contou o vendedor, apontando para um camarão com uma carapaça bem mole, indício de que acabara de trocar a casca. "Quando isso acontece, o siri vem e pega o grandão com aquelas garras".
 Segundo a bióloga da Universidade Federal do Pará (UFPA), Jussara Lemos, que faz parte do Laboratório de Biologia Pesqueira e Manejo de Recursos Aquáticos, a literatura sobre o malasiano diz que "ele se alimenta de insetos aquáticos, sementes e outros crustáceos". A possibilidade de ser abocanhado - ou ganchado - por um siri é real. "Todos os camarões trocam a casca, mas só é perceptível nos maiores. Ele realmente fica mais vulnerável".
Por se alimentar de pequenos animais, é provável que o gigante esteja esmagando o regional. Apenas mais uma hipótese. As pesquisas realizadas na região se focaram em outros animais e não nos hábitos do malasiano. "Ele pode ser uma ameaça ao camarão regional. Precisamos saber como ele esta impactando as outras populações", disse a bióloga Jussara Lemos.

Fontes:
http://www.orm.com.br/amazoniajornal/interna/default.asp?modulo=222&codigo=600930
Imagem: 
José Carlos Silva Santos
http://lucasohana.wordpress.com/2011/06/20/visita-a-bucolica/
 http://mosqueiroambiental.blogspot.com.br




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